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terça-feira, 6 de junho de 2017

Como seria um RPG "civil"?

Para quem não sabe, os jogos de RPG de mesa são uma mudança da escala estratégica dos exércitos dos wargames (jogos de guerra) de mesa para uma escala tática de duelo épico entre heróis e líderes desses exércitos. Sim, o RPG é de origem "militar", ainda que criado por "civis"!

Estrategas e seus estratagemas.

Não é à toa que TODO manual de instruções de jogos RPG desde que o Chainmail virou Dungeons & Dragons (D&D) tem SEMPRE um capítulo exclusivamente dedicado ao combate, e a maioria deles ainda traz toda um lista de armas a serem adquiridas e uma tabela com suas respectivas estatísticas de guerra.

Ok, então como seria o contrário disso, um RPG civilizado, no qual o máximo de conflito fosse entre concorrentes a competir por um bom negócio, no qual mecânicas de comércio substituíssem as de combate, com poder aquisitivo em vez do dano de um ataque e valores de mercado em vez de defesas e resistência a dano.

No caso do Sistema D20, utilizado desde a terceira edição do D&D, talvez a mecânica de Riqueza (Wealth, capacidades e testes de compra e venda) do D20 Modern servisse de base para todos os testes em vez do bônus de ataque (rolagem usada inclusive nos testes de perícias "pacíficas"), das classes de defesa (CD, usadas também como "classes de dificuldade" para perícias "pacíficas"), das rolagens de dano e dos pontos de vida.

"Gostosa! Quentinha! Tapioca!", o pregão abre o dia.

Em vez de campos de batalha teríamos feiras e mercados, em vez de estalagens e tavernas que mais parecem alojamentos de quartel teríamos armazéns e oficinas ou silos e fazendas.

As mortes seriam caso de polícia e não baixas de guerra, e a mecânica de aquisição e venda poderia servir de base para a exigência e concessão de direitos de um sistema jurídico completo, com julgamentos, juízes e tribunais.

Protesto, meritíssimo!

Talvez fosse necessário um sistema de negociação, talvez uma espécie de leilão entre os personagens dos jogadores e os personagens do mestre, com fichas ("tentos") a serem apostadas ou mãos de cartas (ou rolagens fechadas em copos) a serem reveladas.

Alguns defendem o conflito nas brincadeiras dizendo que vivemos numa sociedade pacífica o suficiente e que precisamos de catarse para nossa agressividade natural, porém prefiro considerar que vivemos numa realidade tensa, insegura e sujeita a traumas a qualquer momento, e precisamos mais ainda do exercício de habilidades de consenso e troca, ainda que seja no vislumbre de um paraíso apenas jogado e ainda não vivido.

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